21 de março - Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial
- Laís Monteiro
- 21 de mar. de 2017
- 3 min de leitura
“História, nossas histórias, dias de luta dias de glória”. E quantas lutas, a canção do grupo Charlie Brown Jr ilustra bem o combate diário contra a discriminação racial. O dia 21 de março foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), como o Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial. O motivo foi mais do que simbólico, foi sob lágrimas e sangue, literalmente.
Em 21 de março de 1960, 69 pessoas foram assassinadas e 180 ficaram feridas após um protesto pacífico contra a Lei do Passe que obrigava negros a usarem uma identificação descrevendo lugares onde podiam circular. Cerca de 20 mil pessoas participavam da manifestação na cidade de Sharpeville, quando a Polícia Sul Africana conteve o público com tiros e rajadas.

Cinquenta e sete anos se passaram, mas muito carregamos em comum com o povoado de Shapeville. Ainda vejo lugares em que o negro “não circula”. Dentre vários destes locais, gostaria de destacar um setor fundamental: a educação. Segundo dados organizados pelo movimento Todos pela Educação, divulgados no final do ano passado, a taxa de analfabetismo é de 11,2% entre os pretos, 11,1% entre os pardos, e 5% entre os brancos.
As características em comum com o povo de Shaperville não param por aí, segundo dados do Mapa da Violência divulgado final do ano passado, a vitimização negra do país, que em 2003 era de 71,7%, mais que duplicou: em 2014 alcançou 158,9%, o que significa que morrem 2,6 vezes mais negros que brancos vitimados por arma de fogo. O trabalho foi produzido pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), com foco em violência com armas de fogo e variáveis.
Eu duvido se há no mundo algum negro que nunca tenha sofrido qualquer tipo de discriminação racial. Depois que iniciei o Blog Encacheada, comecei a receber mensagens com histórias de pessoas que sofreram discriminação por cor, tipos de cabelo e outros aspectos físicos, o que me deu um choque de realidade. Eu ouvia a palavra "racismo", eu sabia que sofria de descriminação em diversas situações da minha vida, mas eu nunca me atentei na gravidade da situação. Eu não tinha realmente ideia do que acontecia com os negros, mesmo passando por isso a minha vida inteira. Eu não me dava conta, já havia me acostumado com a situação, porque o mundo me ensinou que sofrer era normal e que eu deveria aceitar, afinal “quem nunca sofreu discriminação e continua vivo”.
Assim como nunca me dei conta da situação, acredito que existam pessoas na mesma situação. Por isso, pode o mundo dizer ser “mimimi”, mas eu continuo gritando: “HEY GENTE, racismo existe sim, é real, está aqui perto, OLHA!”.
A nossa luta está tomando voz, está tomando cor, ainda que engatinhando ou em passos lentos, tem empresas que já se conscientizaram sobre isso, e confesso: estou achando muito lindo e bato palmas mesmo, faço barulho, compartilho. Elas precisam ser vistas, quem é digno de mérito precisa ser creditado, pois o espaço que é nosso precisa ser respeitado. Eu não desejo um futuro melhor para os negros, eu desejo que o processo de reparação histórica tenha resultados HOJE, já! Eu quero ver os meus atuando e tendo oportunidades iguais, por competência. E olha, competência é o que não falta quando nos são dadas oportunidades.
O dia de hoje não é só um dia de lembrança de algo que aconteceu anos atrás, mas um dia de para ter a sensibilidade de enxergar o que CONTINUA acontecendo hoje. Os dias de lutas marcaram o passado, marcam o presente e sei que ainda existirão, para que, em nossa história, possamos viver os dias de glória. Que seja com suor, lágrimas, mas também com risos, amor e esperança.
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