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O que aprendi com Bruna Marquezine, setembro amarelo e terapia

  • Laís Monteiro
  • 6 de set. de 2018
  • 4 min de leitura

Hoje quando comecei a ver as histórias no Instagram, vários amigos estavam compartilhando os stories de Bruna Marquezine, onde ela falava sobre alguns comentários em suas fotos de pessoas criticando sua forma física, dizendo que ela havia emagrecido muito. Bruna falou bem de como aqueles tipos de comentários podem ser prejudiciais a saúde psicológica das pessoas. Então, presumo que as pessoas que compartilharam ou se sentiram representadas com que ela disse ou se compadeceram da sua crítica.

Eu sou Laís Monteiro, tenho 28 anos, jornalista, escrevo sobre vivências, minhas, de outras pessoas, sobre minha percepção de mundo. Há cerca de uma semana postei stories falando EXATAMENTE sobre o mesmo assunto da Bruna, citei autoras, contextualizei com a minha vivência e exatamente 0 amigos ou seguidores compartilharam meu vídeo. Recebi algumas respostas e troquei com algumas meninas sobre o assunto e só.

Mas o que eu e a Bruna Marquezine temos de diferente além de 31 milhões de seguidores e alguns milhões na conta bancária, algumas viagens para o exterior, novelas, campanhas publicitárias, corpo perfeito, cabelo liso, pele clara e ser inacessível. Ou seja, tudo né? rs.

Mas quem está mais perto de ser uma pessoa real? Uma pessoa que reflete a realidade de pessoas comuns?

Eu sempre ouço de amigos, conhecidos que admiram meu trabalho, mas não na mesma intensidade que recebo críticas e julgamentos, essa última é bem maior. Todos os dias questionam a forma que eu falo, dizem que não preciso ser agressiva, que tenho que explicar com amor às pessoas o porque estão sendo preconceituosas, ignoram toda a agressividade que estou exposta SEMPRE. Em MOMENTO ALGUM perguntam como é ser alvo diário de tantas críticas, sobre minha pele, cabelo, posicionamento, como é ser seguida nas lojas porque a sociedade diz que ladras tem a minha estética, como é ser sexualizada o tempo inteiro e ainda sim, acreditar que o mundo tem jeito. Ainda assim acreditar que igualdade racial é possível se todos se conscientizarem, ainda assim continuar dizendo para outras mulheres que elas são bonitas do jeito que são.

No ano passado eu fiz uma pesquisa científica para estudar um pouco dos impactos da internet e da produção de blogueiras negras na afirmação de identidades de mulheres negras. Para realizar esse trabalho estudei sobre imprensa, imprensa negra, internet, beleza, história do brasil, identidades, autoestima, blogs, comportamento de blogueiras, impactos que trazem na vida de quem as segue e muito mais. Leio muitos livros relacionados aos temas, participo de debates, rodas de conversas, leio vários relatos diários, escrevo no mínimo dois textos mensais sobre os temas, dou palestras, assovio e chupo cana ao mesmo tempo.

Com isso, posso considerar que tenho uma vivência no assunto, até porque como toda mulher negra, sofro racismo desde sempre, os danos psicológicos que isso me causou são incalculáveis. Mas porque meus vídeos não viralizam entre meus amigos e as pessoas que me seguem, assim como viralizou o da Bruna?

Deve ser pelo mesmo motivo que já passei por situações de racismo do lado de alguns e eles nada fizeram, mas no outro dia estavam compartilhando hashtags antirracistas na internet apoiando pessoas que nunca viram.

Deve ser pelo mesmo motivo que vejo várias pessoas compartilhando mensagens de setembro amarelo, dizendo que pode mandar mensagem inbox caso precise conversar, mas quando você diz que não está bem, a pessoa diz que está um pouco ocupada, e comenta com outras pessoas que você não está bem, como se todo o resto das pessoas do mundo também não estivessem com problemas, te julgam por querer conversar, “Lá vem fulano querer falar da mesma coisa novamente”.

A teoria é linda, na internet, todo mundo é bem resolvido, todo mundo é zen. Só aquele seu amigo que não é, aquele que fala sobre problemas sociais, empoderamento, que admite fraquezas, que diz que erra, que bate de frente com as imposições sociais sobre diversos assuntos. Aquele amigo não, ele é surtado, ele tem uma energia pesada, ele só fala de problema. Já a Bruna Marquezine é bem resolvida, empoderada, mulherão, corajosa por fazer aqueles stories. Vejam bem, não estou diminuindo a dor da atriz, mas a comoção seletiva com que as pessoas reagem ao mesmo assunto.

Há três meses eu iniciei um atendimento com uma psicoterapeuta, meu único arrependimento na vida é de não ter iniciado antes. Mudei muito depois que passei a entender algumas questões pessoais, mas a minha principal lição foi: não esperar compreensão, nem das pessoas próximas. Entendi que a minha felicidade, os meus problemas e principalmente minha saúde mental está nas minhas mãos. Por isso, cuidar de mim deve sempre ser prioridade, me colocar em primeiro plano é prioridade, porque na hora que o bicho pega, só eu posso me salvar.

O único conselho que eu dou a você que está lendo esse texto, é também não esperar isso de ninguém. Minha dica de setembro amarelo é: procure uma ajuda profissional, psicólogos, psiquiatras,TODOS precisam de ajuda. Tenho plena consciência que se tratando de Brasil, temos dificuldades que nos impedem a ter acesso fácil aos serviços de saúde. A outra dica é: se você não tem plano, dinheiro ou não consegue atendimento pelo SUS, procure atendimentos em faculdades que tem curso de psicologia, essas normalmente tem atendimentos sociais. Caso se sinta sem saída, ligue 188.

O Desabafo Social, tem o Projeto Redes Vivas, que reúne um mapeamento de profissionais de saúde do Brasil e atendimento psicológico em Salvador para o público LGBTQ e população negra, preferencialmente. Nem sempre os inbox estão realmente abertos ou as pessoas que postam “artes amarelas” estão dispostas a ouvir, mas um profissional além de capacitado para isso, estará sempre disposto a te ajudar.

<sp00;>A todos, apoie seus amigos, assim como apoia as celebridades que você nem conhece!</span>


 
 
 

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